A gravidez
precoce é uma das ocorrências mais preocupantes relacionadas à sexualidade da
adolescência, com sérias conseqüências para a vida dos adolescentes envolvidos,
de seus filhos que nascerão e de suas famílias.
A incidência
de gravidez na adolescência está crescendo e, nos EUA, onde existem boas
estatísticas, vê-se que de 1975 a 1989 a porcentagem dos nascimentos de
adolescentes grávidas e solteiras aumentou 74,4%. Em 1990, os partos de mães
adolescentes representaram 12,5% de todos os nascimentos no país. Lidando com
esses números, estima-se que aos 20 anos, 40% das mulheres brancas e 64% de
mulheres negras terão experimentado ao menos 1 gravidez nos EUA .
No Brasil a
cada ano, cerca de 20% das crianças que nascem são filhas de adolescentes,
número que representa três vezes mais garotas com menos de 15 anos grávidas que
na década de 70, engravidam hoje em dia (Referência). A grande maioria dessas
adolescentes não tem condições financeiras nem emocionais para assumir a
maternidade e, por causa da repressão familiar, muitas delas fogem de casa e
quase todas abandonam os estudos.
A Pesquisa
Nacional em Demografia e Saúde, de 1996, mostrou um dado alarmante; 14% das
adolescentes já tinhas pelo menos um filho e as jovens mais pobres apresentavam
fecundidade dez vezes maior. Entre as garotas grávidas atendidas pelo SUS no
período de 1993 a 1998, houve aumento de 31% dos casos de meninas grávidas
entre 10 e 14 anos. Nesses cinco anos, 50 mil adolescentes foram parar nos
hospitais públicos devido a complicações de abortos clandestinos. Quase três
mil na faixa dos 10 a 14 anos.
Segundo
Maria Sylvia de Souza Vitalle e Olga Maria Silvério Amâncio, da UNIFESP, quando
a atividade sexual tem como resultante a gravidez, gera conseqüências tardias e
a longo prazo, tanto para a adolescente quanto para o recém-nascido. A
adolescente poderá apresentar problemas de crescimento e desenvolvimento,
emocionais e comportamentais, educacionais e de aprendizado, além de
complicações da gravidez e problemas de parto. É por isso que alguns autores
considerem a gravidez na adolescência como sendo uma das complicações da
atividade sexual.
Ainda
segundo essas autoras, o contexto familiar tem uma relação direta com a época
em que se inicia a atividade sexual. As adolescentes que iniciam vida sexual
precocemente ou engravidam nesse período, geralmente vêm de famílias cujas mães
se assemelharam à essa biografia, ou seja, também iniciaram vida sexual precoce
ou engravidaram durante adolescência.
O
comportamento sexual do adolescente é classificado de acordo com o grau de
seriedade. Vai desde o "ficar" até o namorar. "Ficar" é um
tipo de relacionamento íntimo sem compromisso de fidelidade entre os parceiros.
Num ambiente social (festa, barzinho, boate) dois jovens sentem-se atraídos,
dançam conversam e resolvem ficar juntos aquela noite. Nessa relação podem
acontecer beijos, abraços, colar de corpos e até uma relação sexual completa,
desde que ambos queiram. Esse relacionamento é inteiramente descompromissado,
sendo possível que esses jovens se encontrem novamente e não aconteça mais nada
entre eles de novo (veja Hábito de Ficar Com....).
Em bom número
de vezes o casal começa "ficando" e evoluem para o namoro. No namoro
a fidelidade é considerada muito importante. O namoro estabelece uma relação
verdadeira com um parceiro sexual. Na puberdade, o interesse sexual coincide
com a vontade de namorar e, segundo pesquisas, esse despertar sexual tem
surgido cada vez mais cedo entre os adolescentes (veja Adolescência e
Puberdade). O adolescente, impulsionado pela força de seus instintos,
juntamente com a necessidade de provar a si mesmo sua virilidade e sua
independente determinação em conquistar outra pessoa do sexo oposto, contraria
com facilidade as normas tradicionais da sociedade e os aconselhamentos
familiares e começa, avidamente, o exercício de sua sexualidade.
Há uma
corrente bizarra de pensamento que pretende associar progresso, modernidade,
permissividade e liberalidade, tudo isso em meio à um caldo daquilo que seria
desejável e melhor para o ser humano. Quem porventura ousar se contrapor à esse
esquema, corre o risco de ser rotulado de retrógrado. As pessoas de bom senso
silenciam diante da ameaça de serem tidas por preconceituosas, interessando à
cultua modernóide desenvolver um cegueira cultural contra um preconceito ainda
maior e que não se percebe; aquele que aponta contra pessoas cautelosas e
sensatas, os chamados "conservadores", uma espécie acanhada de
atravancador do progresso.
As atitudes
das pessoas são, inegavelmente, estimuladas e condicionadas tanto pela família
quanto pela sociedade. E a sociedade tem passado por profundas mudanças em sua
estrutura, inclusive aceitando "goela abaixo" a sexualidade na
adolescência e, conseqüentemente, também a gravidez na adolescência. Portanto,
à medida em que os tabus, inibições, tradições e comportamentos conservadores
estão diminuindo, a atividade sexual e a gravidez na infância e juventude vai
aumentando.
Adolescência
e Gravidez
A
adolescência implica num período de mudanças físicas e emocionais considerado,
por alguns, um momento de conflitivo ou de crise. Não podemos descrever a
adolescência como simples adaptação às transformações corporais, mas como um
importante período no ciclo existencial da pessoa, uma tomada de posição
social, familiar, sexual e entre o grupo.
A puberdade,
que marca o início da vida reprodutiva da mulher, é caracterizada pelas
mudanças fisiológicas corporais e psicológicas da adolescência. Uma gravidez na
adolescência provocaria mudanças maiores ainda na transformação que já vinha
ocorrendo de forma natural. Neste caso, muitas vezes a adolescente precisaria
de um importante apoio do mundo adulto para saber lidar com esta nova situação.
Porque a
adolescente fica grávida é uma questão muito incômoda aos pesquisadores. São
boas as palavras de Vitalle & Amâncio (idem), segundo as quais a utilização
de métodos anticoncepcionais não ocorre de modo eficaz na adolescência,
inclusive devido a fatores psicológicos inerentes ao período da adolescência. A
adolescente nega a possibilidade de engravidar e essa negação é tanto maior
quanto menor a faixa etária.
A atividade
sexual da adolescente é, geralmente, eventual, justificando para muitas a falta
de uso rotineiro de anticoncepcionais. A grande maioria delas também não assume
diante da família a sua sexualidade, nem a posse do anticoncepcional, que
denuncia uma vida sexual ativa. Assim sendo, além da falta ou má utilização de
meios anticoncepcionais, a gravidez e o risco de engravidar na adolescente
podem estar associados a uma menor auto-estima, à um funcionamento familiar
inadequado, à grande permissividade falsamente apregoada como desejável à uma
família moderna ou à baixa qualidade de seu tempo livre. De qualquer forma, o
que parece ser quase consensual entre os pesquisadores, é que as facilidades de
acesso à informação sexual não tem garantido maior proteção contra doenças
sexualmente transmissíveis e nem contra a gravidez nas adolescentes.
Uma vez
constatada a gravidez, se a família da adolescente for capaz de acolher o novo
fato com harmonia, respeito e colaboração, esta gravidez tem maior
probabilidade de ser levada a termo normalmente e sem grandes transtornos.
Porém, havendo rejeição, conflitos traumáticos de relacionamento, punições
atrozes e incompreensão, a adolescente poderá sentir-se profundamente só nesta
experiência difícil e desconhecida, poderá correr o risco de procurar abortar,
sair de casa, submeter-se a toda sorte de atitudes que, acredita, “resolverão”
seu problema.O bem-estar afetivo da adolescente grávida é muito importante para
si própria, para o desenvolvimento da gravidez e para a vida do bebê. A
adolescente grávida, principalmente a solteira e não planejada, precisa encarar
sua gravidez a partir do valor da vida que nela habita, precisa sentir
segurança e apoio necessários para seu conforto afetivo, precisa dispor
bastante de um diálogo esclarecedor e, finalmente, da presença constante de
amor e solidariedade que a ajude nos altos e baixos emocionais, comuns na
gravidez, até o nascimento de seu bebê.
Mesmo diante
de casamentos ocorridos na adolescência de forma planejada e com gravidez
também planejada, por mais preparado que esteja o casal, a adolescente não
deixará de enfrentar a somatória das mudanças físicas e psíquicas decorrentes
da gravidez e da adolescência.
A gravidez
na adolescência é, portanto, um problema que deve ser levado muito a sério e
não deve ser subestimado, assim como deve ser levado a sério o próprio processo
do parto. Este pode ser dificultado por problemas anatômicos e comuns da
adolescente, tais como o tamanho e conformidade da pelve, a elasticidade dos
músculos uterinos, os temores, desinformação e fantasias da mãe ex-criança,
além dos importantíssimos elementos psicológicos e afetivos possivelmente
presentes.
Para se ter
idéia das intercorrências emocionais na gravidez de adolescentes, em trabalho
apresentado no III Fórum de Psiquiatria do Interior Paulista, em 2000, Gislaine
Freitas e Neury Botega mostraram que, do total de adolescentes grávidas
estudadas na Secretaria Municipal de Saúde de Piracicaba, foram encontrados:
casos de Ansiedade em 21% delas, assim como 23% de Depressão. Ansiedade junto
com Depressão esteve presente em 10%.
Importantíssima
foi a incidência observada para a ocorrência de ideação suicida, presente 16%
dos casos, mas, não encontraram diferenças nas prevalências de depressão,
ansiedade e ideação suicida entre os diversos trimestres da gravidez. Tentativa
de suicídio ocorreu em 13% e a severidade da ideação suicida associação
significativa com a severidade depressão.
Procurando
conhecer algumas outras características da população de adolescentes grávidas
como estado civil, escolaridade, ocupação, menarca, atividades sexuais, tipo de
parto, número de gestações e realização de pré-natal, Maria Joana Siqueira refere alguns números interessantes.
Números interessantes da Gravidez na Adolescência
Porcentagem de grávidas entre 16 e 17 anos 84%
Primigestas (primeira gestação) 75%
Freqüentaram o pré-natal 95%
Tiveram parto normal 68%
Menarca (1a. menstruação) entre os 11 e 12 anos 52%
Não utilizavam nenhum método contraceptivo 56%
Usavam camisinha às vezes 28%
Utilizavam a pílula 16%
A primeira relação sexual ocorreu*: até os 13 anos 10%
entre 14 e 16 anos 27%
entre 17 e 18 anos 18%
entre 19 e 25 anos 17%
depois dos 25 anos 2%
Ideação
Suicida em Adolescentes Grávidas
Gisleine Vaz
Scavacini de Freitas e Neury José Botega (Unicamp) têm um estudo sobre ideação
de suicídio em adolescentes grávidas. Estudaram 120 adolescentes grávidas (40
de cada trimestre gestacional), com idades variando entre 14 e 18 anos,
atendidas em serviço de pré-natal da Secretaria Municipal de Saúde de
Piracicaba.
Do total dos
sujeitos, foram encontrados: casos de ansiedade em 25 (21 %); casos de
depressão em 28 (23%). Desses, 12 (10%) tinham ansiedade e depressão. Ideação
suicida ocorreu em 19 (16%) das pacientes. Não foram encontradas diferenças nas
prevalências de depressão, ansiedade e ideação suicida nos diversos trimestres
da gravidez.
As
tentativas de suicídio anteriores ocorram em 13% das adolescentes grávidas. A
severidade dessas tentativas de suicídio teve associação significativa com o
grau da depressão, bem como com o estado civil da pacientes (solteira sem
namorado).
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